Conceito de fim...
Ontem abri aleatoriamente as páginas de um livro, tinha um leve cheiro do teu perfume. Estremeci, a tua memória preencheu-me.
Por momentos esqueci as minhas noites solitárias, tantas noite em que chorei até pensar que já não teria nada dentro de mim, em que todo o sentimento, toda a dor, toda a perda, foram derramadas sobre a almofada, essa almofada a que me agarro nessas noites que parecem não terminar, essa almofada que acalma os pesadelos que teimosamente insistem em visitar-me. Sinto-me oca, vazia, de tanto chorar...A gata, que ocupou o teu lugar na cama, acorda muitas vezes comigo a gritar o teu nome, acorda comigo empapada em suor. Coitada da bichana, mia baixinho junto do meu ouvido, numa tentativa de me reconfortar, o que até resulta, mas os pesadelos da tua ausência são uma visita constante.
Às vezes penso se estes pesadelos não serão a minha consciência a gritar de culpa. Cheguei a desejar a tua morte, sabias? Houve uma altura em que me fartei de correr para o hospital, em que me fartei de olhar para ti e ver um esqueleto ambulante, em que me fartei de todos os tratamentos infrutíferos e de todas as falinhas mansas dos doutores. Muitas vezes pensei em dar-te uma dose extra de morfina e antecipar o teu destino, e muitas vezes olhei para os teus olhos e sei que me estavas a suplicar que o fizesse...Penso agora se esses meus pensamentos não terão apressado o teu fim, uma espécie de mau carma. É uma estupidez, eu sei, mas os pesadelos teimam em fazer-me companhia juntamente com a gata.
Assim como a culpa e a tua ausência, a tua constante ausência