Um avô escreve um texto ao seu neto, acabado de nascer:
Querido neto:
Fodi a tua mãe!
Eis a minha infâmia nua e crua…
Fodi a tua mãe,
Esfaqueei-lhe os sonhos e a vontade...
Fodi a tua mãe,
Quis que ela somente respirasse nada mais do que a mediocridade,
Que ela vivesse apenas a passagem interminável dos dias monotonamente iguais.
Fodi a tua mãe,
Reduzi-a a material de limpeza,
A ser companhia da pá, da vassoura e da esfregona
E mesmo estes objetos sentimos-lhes a ausência quando nos faltam.
A tua mãe tornou-se meramente a mulher a dias.
Desgrenhada, invisível, a valer tanto como um grão de pó,
E mesmo assim eu fodi-a,
Prendendo-a aos grilhões da servidão humana.
Espero que me perdoes por ser nada mais do que um velho tonto,
Por ser cobarde,
Por negar a liberdade a uma ave.
Egoísta, quis tê-la só para mim,
Não a quis partilhar om o mundo,
Mas o mundo encarregou-se de a roubar de mim.
Fodi a tua mãe…
Reduzi-a a nada,
E mesmo assim ela deu-me tudo.
Deu-me o mundo, deu-me a ti.
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