domingo, 29 de maio de 2016

2

"A casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo."


O mundo intoxicante e asfixiante, onde perco os sentidos, o cheiro a bolor a penetrar nas minhas narinas, fazendo confundir norte e sul, este e oeste.

Fujo, cambaleando, deste cheiro que teima em se impregnar nas minhas roupas, essa presença ubíqua a estalar na minha cabeça, fechando as suas garras sobre o meu pescoço dificultando a passagem de ar; o sangue a latejar cada vez mais forte na minha cabeça.

Grito!
Corro desvairada pelo solo pejado de enxofre e de corpos caídos em guerras perpétuas e mesquinhas.

Fujo para a segurança insegura da minha casa, essa casa tão velha e decadente como eu, onde ainda ontem arranjei o soalho e hoje mais uma janela que cai.

Caio sobre a poltrona, cansada e desanimada, com o peso do mundo sobre o meu esqueleto caquético.

Sinto os sentidos abandonarem-me, o corpo a desistir de perceber esse mundo cão.

Estou quase a adormecer…

Amanhã arranjo a janela.

Sem comentários:

Enviar um comentário

This used to be my playground