sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Porto

Foi-me pedido pela que fizesse um post sobre o Porto. Em primeiro lugar, eu não sou natural do Porto, sou do Bombarral (perto de Caldas da Rainha), portanto tudo o que aqui for dito não é bairrismo nortenho. Quando há 12 anos cheguei a esta cidade, detestei-a. Afinal estava habituada às grandes ruas de Lisboa, ao aspecto límpido dessa cidade, e ao sol do Sul. Encontrava-me numa cidade com ruas estreitas, onde por vezes o sol não penetra, e de aspecto lúgubre, com prostitutas em cada esquina, que não tinham vergonha de se mostrar.
Passados alguns meses passei a amar esta cidade. Porquê? Não sei dizê-lo...Eu gosto de fazer a seguinte comparação: Lisboa é uma daquelas pessoas muito bonitas que se cruzam connosco e que nós ficamos siderados, mas depois conhece-se um pouco melhor, e vemos que nada tem para oferecer, sendo até fútil. O Porto é daquelas pessoas que te causa indiferença, chegando a tocar as raias da antipatia, mas depois dás uma chance e vês que é uma pessoa maravilhosa.
Acho que foi isso que aconteceu...dei uma chance, e descobri coisas que me encantam, para não falar de que a indiferença e a frieza que caracterizam uma cidade cosmopolita ainda não chegaram aqui. Pode-se ir no autocarro e de repente entabular conversa com alguém, podes cair no passeio e perguntam-te se precisas de ajuda.
Uma aldeia em ponto grande? Sim, é. Uma pronúncia que às vezes consegue irritar? Sim, também. Mas sempre que passo a Ponte da Arrábida e vejo aquela paisagem, sinto-me bem, sinto que ainda tenho muito para conhecer desta cidade. Como diria o Rui Veloso,"E é sempre a primeira vez em cada regresso a casa".

17 comentários:

  1. Anónimo17:32

    Não fiquei muito fã de Caldas da Rainha. De Lisboa já não posso dizer o mesmo pois passei lá uma parte, pequena, mas interessante da minha juventude. Relativamente ao Porto acho que resumes muito bem o que é esta cidade maravilhosa que muito adoro. Muito há ainda para dizer, mas como tu dizes...ainda estás a descobrir.

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  2. Olá menina...
    É, nunca tinha pensado no Porto dessa forma, mas deixa que te diga que conheço o Porto de passagem e sinto da mesma forma que tu quando o conheceste.
    Apresentaram-mo, mas não convivemos...

    Deixo-te um kiss, até outro desinstante!

    Gude uiquende per tê!

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  3. Eu vivo perto de Lisboa e, claro, é a minha cidade. E não gostava do Porto, dantes. Antes de conhecer melhor a cidade e pessoas que por lá vivem. Agora gosto. Muito, mesmo. **

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  4. Parece que o Porto tem o condão de encantar os sulistas...

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  5. O Porto é uma Nação, carago! :P. Eu adoro o Porto, acho muito mais espetacular que Lisboa.... Merece ser património Mundial, sem dúvida!

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  6. Saudações
    Ainda irei conhecer a tera de meus antepassados, e este texto deu-me mais vontade!
    Abraços

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  7. Em primeiro lugar felicito-te pelo tema. Acho que o Porto é uma cidade com mais coração que Lisboa, menos alterada nas formas de pensar e sentir. Aqui em Lisboa somos aparentemente mais frios, mais distantes. Mas sobretudo acho que quem vive no Porto tem uma noção de comunidade que já não existe em Lisboa. Aqui o egoismo impera...mas também há muitas vantagens de se viver em Lisboa, acredita! Boa semana e gostei muito deste teu PORTO ;)

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  8. As vantagens de viver em Lisboa, é que tem uma variedade cultural que o Porto não tem...
    Mas é como tu dizes amigo Tacitus: Porto tem mais coração que Lisboa, talvez por ainda não ser cosmopolita (por isso é que também não vês as pessoas a correrem para apanhar transportes públicos). É como já disse: Porto é uma aldeia em ponto grande...

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  9. O Porto é uma cidade deslumbrante... quando se ama... ama-se a sério com tudo o que o pacote apresenta!

    Já dizia o Rui Reininho e bem: "É a pronúncia do Norte!"

    Mas bolas, Lisboa também tem muito para oferecer! Sim, é uma cidade de aparências... mas tem muito o que ver, uma diversidade cultural enorme e actividades diversas!! Não é assim tão fútil como dizes!!

    Fiquei triste!! Amo Lisboa... mas também amo o Porto!!

    Beijinhos!

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  10. Ah... Esqueci-me! As Caldas da Rainha não têm propriamente muito que ver... mas também é uma terra bonita!!

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  11. Anónimo15:49

    Na verdade o Porto tem um encanto natural que outras cidades não têm. Não é fácil gostar à 1ª, como qs tudo na vida deve-se conhecer profundamente para amar na sua plenitude.
    Aqui há uns anos tive a visita de um amigo de Lisboa e tivemos ke ir a uma loja de equipamentos electricos fazer kk koisa , já não me lembro. A empregada atendeu-nos de uma forma tão simpática (cm geralmente acontece) , encetamos uma conversa a 3...e o meu amigo ficou tão encantado c esse comportamento ke achou ke a míuda se estava a atirar a ele. keria-se mudar pra cá e tudo lol...apenas pk ela respondeu e conversou connosco.
    As cidades são feitas pelas gentes, fui smp mt bem recebida em Lisboa...e nas Caldas ( sim Tejina, já estive nas Caldas e gostei...) mas o Porto assim como toda a zona norte tem um encanto natural talvez causado por uma certa ingenuidade e transparência no trato.
    Sabemos o nome da recepcionista do ginasio,cumprimentámos os outros nos elevadores etc etc.
    ( acho ke o MEC tem um texto sobre isto, não estou certa)

    beijo amiga

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  12. Anónimo16:52

    O NORTE visto por Miguel Esteves Cardoso
    Primeiro, as verdades.

    O Norte é mais Português que Portugal.
    As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
    O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
    As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
    Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca.
    Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.

    Mais verdades.

    No Norte a comida é melhor.
    O vinho é melhor.
    O serviço é melhor.
    Os preços são mais baixos.
    Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
    Estas são as verdades do Norte de Portugal.
    Mas há uma verdade maior.
    É que só o Norte existe. O Sul não existe.
    As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
    Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.

    No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
    No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.

    Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
    Não haja enganos.
    Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
    Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.
    Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.

    Mas o Norte é onde Portugal começa.
    Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.
    Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
    Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
    Mais ou menos peninsular, ou insular.
    É esta a verdade.
    Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil
    misturadas, Continente.
    No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.

    O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.

    O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho.
    Tem esse defeito e essa verdade.

    Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.

    O Norte é feminino.

    O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

    As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.

    Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade.
    Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das
    burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens.
    Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.

    São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.

    As mulheres do Norte deveriam mandar neste país.

    Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte.
    Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.

    Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.
    Só descomposturas, e mimos, e carinhos.

    O Norte é a nossa verdade.

    Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os
    seus pedaços e pormenores.

    Depois percebi.

    Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".

    Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.

    No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
    O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego?
    Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.

    O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?"
    MEC

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  13. Anónimo18:36

    Olá Mac:)
    Surpreendente.
    Vivendo desde sempre no Porto sou apaixonado pela minha terra, no entanto costumo dizer que sou um homem do mundo. Um homem do mundo aprende a amar todas as terras e a ficar apaixonado por elas.
    Não conheço terra que não seja única pelas casas e pelas gentes que a caracterizam.
    Quando vou na A1 para a minha amada Lisboa, perto de Vila Franca, há um monte com contornos que me lembram uma mulher nua e me faz esquecer as cascatas são-joaninas.
    Como tão bem dizes, dando "chance" às terras elas tornam-se nossas, tornam-se queridas, sendo sempre "a primeira vez" cada "regresso" que a elas fazemos.

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  14. Ei obrigado por teres aceite a minha sugestão! Talvez assim eu consiga perceber melhor o que tem esta cidade de especial! Bom essa situação de falar com as pessoas, de elas serem mais amigáveis, também já reparei. Já não detesto tanto esta cidade confeso, e a Avenida dos Aliados acho-a mesmo bonita... Aqueles edificios...

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  15. Porto é negro mas quando fica sol, é contrastemente belo e alegre. Depois...tem o mar aqui ao pé, uma fleuma inglesa antiga. Mas eu se pudesse ia para o monte e vinha cá vê-lo. Porto é bom para vir. Mas Norte é tudo o que dizem por aí, verdade. Gostei, vim do PPP. Abç

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  16. "O Porto é daquelas pessoas que te causa indiferença, chegando a tocar as raias da antipatia, mas depois dás uma chance e vês que é uma pessoa maravilhosa."

    Adorei esta frase. Está carregada de sentimento puro. Quanto a Lx para mim é uma cidade maldita:D

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  17. Eu que nasci e vivi no Porto desde sempre, não conseguiria dizer melhor. Quando todos que conheço dizem que Paris é a cidade mais romântica do mundo, fiquei parvo quando uma amiga francesa (parisiense) me disse que achava o Porto muito melhor!
    Já agora, adorei o texto do MEC, só quem "compreende" o Norte, sente como tudo é verdade.

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